As negociações para a possível incorporação dos campos de petróleo em terra da Petróleo 3R pela PetroRecôncavo, iniciadas há pouco mais de um mês, estão sendo vistas pelo mercado como um marco significativo na estratégia das petroleiras juniores – termo usado para descrever empresas de pequeno e médio porte do setor.
Analistas consultados pelo Negócios de mensagens instantâneas apontam que essa transação, atualmente em análise pelos conselhos das duas empresas, representa um novo capítulo para as junior oils desde o início dos desinvestimentos da Petrobras, em meados de 2015. Naquela época, essas empresas não possuíam a estrutura de capital necessária para adquirir os grandes campos de petróleo da estatal por conta própria, resultando na pulverização de ativos que anteriormente eram operados sob o mesmo CNPJ.
“Com muitas delas mais capitalizadas agora, estamos começando a identificar os vencedores dessa tese (entre as junior oils), que consolidarão esse mercado”, avalia Frederico Nobre, líder de análise da Warren Brasil. Como exemplo, em 2020, a receita trimestral combinada da PetroRecôncavo e da 3R representava menos de um terço do que foi observado no terceiro trimestre de 2023 – o último dado disponível até o momento.
André Nogueira, analista da Mantaro Capital, ressalta que o potencial negócio entre a 3R e a PetroRecôncavo provavelmente será o último a apresentar uma captura rápida de sinergias como característica. Isso se deve ao fato de que os campos em discussão no acordo eram todos anteriormente operados conjuntamente pela Petrobras e estão localizados próximos uns dos outros. A consolidação desses ativos permitiria à PetroRecôncavo alcançar uma produção verticalizada, uma vez que atualmente depende da 3R para operações nesses campos. “É uma característica da consolidação seguir caminhos mais óbvios inicialmente para depois explorar oportunidades mais arrojadas”, lembra.
Segundo os analistas André Vidal e Helena Kelm, da XP, atualmente a PetroRecôncavo e a PRIO (anteriormente conhecida como PetroRio) emergem como as empresas com capacidade para liderar esse processo de consolidação, cada uma em sua área de especialização. Eles afirmam: “Acreditamos que nos próximos anos haverá um movimento de consolidação entre os players privados, uma vez que o setor de óleo e gás favorece economias de escala”. A expectativa é que a PetroRecôncavo se torne a principal referência em campos de petróleo onshore (em terra firme), enquanto a PRIO, atual líder em produção diária entre as empresas juniores, se destaque no segmento offshore (em plataformas em alto-mar).
Frederico Nobre, da Warren, enfatiza que as oportunidades onshore estão se tornando mais escassas após a Petrobras reduzir suas vendas de ativos, e prevê que as junior oils direcionarão suas aquisições para o offshore. Nesse sentido, a Bacia de Campos, no Rio de Janeiro, deverá se tornar um foco para a PRIO, Enauta e para o possível spin-off da 3R Petroleum, que, caso o acordo com a PetroRecôncavo se concretize, ficará exclusivamente com ativos em alto-mar.
André e Helena, da XP, acrescentam: “A tese de crescimento para as junior oils ainda está em vigor. No entanto, é improvável que a Petrobras venda mais ativos no curto prazo, o que representa um revés para as junior oils”. Eles ressaltam a escassez de ativos disponíveis e preveem que os ativos vendidos pela Petrobras nos últimos anos podem mudar de mãos novamente.
3R e PetroRecôncavo
Em 17 de janeiro, a proposta de fusão de ativos entre a 3R Petroleum e a PetroRecôncavo foi iniciada pela Maha Energy, acionista relevante da 3R e controlada pela Estibordo, o fundo que criou e listou a 3R e que havia se desvinculado da empresa em meados de 2022.
A Maha propôs a divisão dos campos de petróleo terrestres da 3R Petroleum e a incorporação desses ativos pela PetroRecôncavo, em uma transação que poderia resultar em sinergias operacionais de até US$ 1,1 bilhão entre os ativos – um valor que o mercado observa com cautela. Além disso, a transação incluiria a transferência de US$ 1,4 bilhão em dívidas da 3R Petroleum para a PetroRecôncavo.
A proposta da Maha Energy sugere que os acionistas da 3R Petroleum recebam uma ação da PetroRecôncavo para cada ação que possuem na 3R Petroleum, mantendo assim sua participação na nova entidade resultante da fusão.
Fontes das duas petroleiras, ouvidas pelo Negócios de mensagens instantâneas, demonstraram receptividade à proposta e as negociações avançaram para discutir uma relação de troca mais favorável pelos ativos. Após o início das tratativas, a 3R Petroleum alterou seu conselho de administração, incluindo membros da Maha Energy, e contratou o Itaú BBA como seu assessor financeiro para negociar a transação. Por sua vez, a PetroRecôncavo teria fechado acordo com a Jefferies para assessorá-la no negócio, conforme informações da Bloomberg.