O presidente da Argentina, Javier Milei, utilizou a tribuna da Assembleia-Geral das Nações Unidas para reforçar sua agenda política e provocar debate no cenário internacional. Em um discurso marcado por ataques à própria ONU e elogios entusiasmados ao ex-presidente norte-americano Donald Trump, Milei defendeu um “esvaziamento” do organismo multilateral e reafirmou posições que já vinha sustentando em seu país.
Críticas à ONU e defesa do Estado-nação
Segundo Milei, a ONU teria se desviado de sua missão original, que seria garantir paz e segurança internacionais, passando a atuar em áreas que, em sua visão, deveriam ser de responsabilidade exclusiva dos Estados soberanos. O presidente argentino argumentou que programas sem “resultados claros e mensuráveis” deveriam ser encerrados e que iniciativas multilaterais não podem “impor estilos de vida” às nações.
Essa fala foi interpretada por analistas como um aceno a setores que questionam o multilateralismo e preferem uma ordem internacional centrada no poder dos Estados individuais, com menos espaço para mediação ou intervenção de organismos globais.
A “ode” a Donald Trump
Um dos pontos mais comentados do discurso foi a série de elogios a Donald Trump. Milei classificou o ex-presidente dos Estados Unidos como responsável por uma “reestruturação histórica” das regras do comércio internacional e destacou sua política de imigração como exemplo de “firmeza e eficácia”. Também mencionou o que chamou de “limpeza” das instituições americanas, em referência ao combate de Trump a setores que, segundo Milei, estariam “capturados pela esquerda”.
Ao adotar esse tom, o líder argentino buscou se alinhar a uma rede internacional de líderes de direita, reforçando afinidades políticas e ideológicas com figuras que defendem menos regulação global e maior ênfase no mercado e no poder nacional.
Repercussão e riscos
Se por um lado Milei ganhou destaque internacional e agradou sua base política, por outro, o discurso gerou reações críticas. Especialistas alertam que reduzir o papel da ONU poderia fragilizar ações de cooperação em áreas cruciais como direitos humanos, combate às mudanças climáticas e ajuda humanitária em crises. Além disso, a escolha de transformar a Assembleia-Geral em palco para elogios a Trump foi vista como gesto de alinhamento explícito a uma agenda polarizadora, que pode complicar a diplomacia argentina com outros parceiros estratégicos.
Apesar do tom ideológico, Milei não deixou de mencionar temas caros à Argentina, como a reivindicação da soberania sobre as Ilhas Malvinas, a cobrança de mandados de captura relacionados ao atentado contra a AMIA e a exigência da libertação de um gendarme argentino preso na Venezuela. Essas pautas, porém, acabaram ofuscadas pela retórica mais agressiva contra a ONU e pelos elogios ao ex-presidente norte-americano.
O discurso de Javier Milei na ONU consolidou sua imagem como um líder disposto a desafiar o multilateralismo e a projetar sua visão liberal radical em escala global. Contudo, também ampliou questionamentos sobre o real impacto de sua postura no campo diplomático e sobre os riscos de isolar a Argentina em meio a um cenário internacional cada vez mais interdependente.