Brasília– Diante da decisão do governo dos Estados Unidos de impor tarifas elevadas sobre produtos agrícolas brasileiros, o setor do agronegócio e autoridades brasileiras estudam estratégias para minimizar impactos econômicos. Uma das alternativas mais discutidas é o redirecionamento das exportações para países árabes, mercado que tem mostrado forte demanda e relações comerciais estáveis com o Brasil.
Tarifaço norte-americano e seus impactos
A nova política tarifária dos EUA atinge especialmente produtos de alto peso na pauta exportadora brasileira, como carne bovina, soja, milho e açúcar. O aumento de impostos pode reduzir a competitividade desses itens no mercado norte-americano, levando produtores e exportadores a buscar alternativas que mantenham o fluxo de vendas e a receita do setor.
Segundo representantes do agronegócio, o impacto pode ser sentido principalmente por pequenos e médios produtores, que dependem fortemente da exportação para os EUA. Além disso, há preocupação com possíveis efeitos em cadeia sobre preços internos e geração de empregos no campo.
Mercado árabe como alternativa
O Brasil mantém há anos uma relação comercial sólida com países do Oriente Médio e do Norte da África, exportando principalmente proteína animal, grãos e açúcar. Em 2024, as vendas para a Liga Árabe ultrapassaram os US$ 17 bilhões, e a expectativa é que este número possa crescer ainda mais com a ampliação de parcerias e acordos comerciais.
Segundo especialistas em comércio exterior, países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito e Argélia têm capacidade de absorver parte significativa dos produtos que perderão competitividade no mercado norte-americano. Além disso, esses mercados têm demonstrado interesse crescente por alimentos certificados com padrões halal, segmento no qual o Brasil é líder mundial.
Diplomacia e logística em foco
Para que essa reorientação ocorra de forma eficiente, o governo brasileiro tem reforçado diálogos diplomáticos e trabalhado para facilitar a logística de exportação. Portos e rotas marítimas voltadas ao Oriente Médio estão sendo avaliados para evitar gargalos e garantir entregas rápidas.
O Ministério da Agricultura e o Itamaraty também discutem a possibilidade de firmar novos acordos bilaterais, reduzindo tarifas de importação nos países árabes e aumentando a previsibilidade para os exportadores brasileiros.
Visão de especialistas
Economistas alertam que, embora a mudança de destino das exportações possa aliviar parte das perdas, ela não substitui totalmente o acesso ao mercado norte-americano. No entanto, pode representar uma oportunidade para diversificar a base de clientes do Brasil e reduzir a dependência de um único parceiro comercial.
“Essa situação, apesar de adversa, pode servir de estímulo para o Brasil explorar novos mercados e consolidar relações com regiões que têm grande potencial de crescimento no consumo de alimentos”, afirma Mariana Duarte, analista de comércio internacional.
Perspectivas para o agro brasileiro
O setor agrícola vê na crise uma chance de reconfigurar sua estratégia de exportação. Empresas já estão ajustando contratos, reforçando certificações halal e ampliando contatos com importadores árabes.
Se bem-sucedida, essa transição pode não apenas compensar parte das perdas impostas pelo tarifaço dos EUA, mas também fortalecer a presença brasileira em mercados que valorizam qualidade, segurança alimentar e relações comerciais de longo prazo.