Justiça da Itália rejeita pedido de Moraes contra Tagliaferro : A recente decisão da Justiça da Itália de rejeitar o pedido de prisão preventiva do ex-assessor de Alexandre de Moraes, Eduardo Tagliaferro, gerou forte repercussão no Brasil e no exterior. O caso envolve acusações de vazamentos de informações sigilosas, abusos de autoridade, perseguição política e disputa ideológica entre o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e setores ligados à direita, em especial ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Com o desenrolar da investigação, o episódio se tornou um dos mais polêmicos da cena política brasileira, unindo acusações graves contra o Judiciário, defesa apaixonada da oposição e a interferência da Justiça europeia.
Quem é Eduardo Tagliaferro
Eduardo de Oliveira Tagliaferro foi nomeado por Alexandre de Moraes para chefiar a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Formado em engenharia civil e direito, com mestrado em inteligência artificial, ele ganhou relevância dentro do gabinete do ministro justamente em um dos períodos mais tensos da política brasileira, marcado pelas eleições e pela proliferação de fake news.
Seu trabalho consistia em produzir relatórios e análises sobre suposta desinformação, material que posteriormente embasaria inquéritos conduzidos pelo STF e pelo TSE. No entanto, a relação de confiança com Moraes se rompeu em 2024, após o vazamento de conversas internas de auxiliares do ministro para a imprensa.
O início do rompimento
As informações publicadas mostravam como decisões de peso eram tomadas no gabinete, muitas vezes sem critérios objetivos ou claros. Segundo reportagens, relatórios eram elaborados de forma seletiva, mirando políticos e influenciadores de direita.
Tagliaferro foi acusado de estar por trás desses vazamentos, o que o colocou em rota de colisão com Moraes. Pouco tempo depois, já rompido com o ministro, ele passou a acusar seu antigo chefe de abusos de autoridade e perseguição política, afirmando que as medidas contra desinformação eram utilizadas para silenciar adversários.
Em entrevistas, chegou a declarar que “só entravam coisas de direita no gabinete e nada de esquerda”, denunciando um suposto direcionamento nas investigações.
Denúncias e acusações da PGR
Em 2025, a Procuradoria-Geral da República (PGR) formalizou denúncia contra Tagliaferro com base nas investigações da Polícia Federal. Ele foi acusado de:
- Violação de sigilo funcional, por divulgar informações confidenciais.
- Coação no curso do processo, por supostamente tentar intimidar investigações.
- Obstrução de investigação penal, ao interferir em apurações em andamento.
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, uma das acusações mais graves da denúncia.
A PGR solicitou sua prisão preventiva, alegando risco de fuga e destruição de provas. O pedido foi endossado por Moraes, que encaminhou a solicitação de extradição à Itália, onde Tagliaferro já estava residindo.
Oposição defende proteção a Tagliaferro
A reação da oposição foi imediata. Senadores e deputados ligados a Jair Bolsonaro passaram a defender que Tagliaferro fosse tratado como um denunciante protegido, e não como criminoso. Parlamentares chegaram a pedir ao governo italiano que garantisse segurança ao ex-assessor, alegando que ele poderia ser vítima de perseguição política no Brasil.
Para setores conservadores, o caso se tornou a prova concreta de que o Judiciário estaria usando sua força institucional para perseguir opositores, enquanto figuras ligadas à esquerda permaneceriam imunes a investigações semelhantes.
Decisão da Justiça italiana
O episódio ganhou contornos internacionais quando o Tribunal de Apelação de Catanzaro, na Itália, analisou o pedido de prisão preventiva enviado pelo Brasil.
A corte rejeitou a prisão de Tagliaferro e, em vez disso, impôs medidas cautelares, como:
- entrega do passaporte;
- obrigação de manter residência fixa e informar horários;
- proibição de deixar a cidade onde mora sem autorização.
Na visão dos magistrados italianos, não havia indícios de que Tagliaferro pretendia fugir ou se esconder, e, portanto, a prisão seria uma medida desproporcional. Essa decisão foi comemorada por seus apoiadores como uma derrota para Alexandre de Moraes e uma vitória simbólica contra o que chamam de abuso judicial no Brasil.
Linha do tempo do caso
2022–2023 – Tagliaferro assume a chefia da AEED no TSE, nomeado por Moraes.
2024 – Vazamentos de conversas internas do gabinete chegam à imprensa. Moraes rompe com Tagliaferro.
Início de 2025 – O ex-assessor começa a dar entrevistas denunciando perseguições e abusos de autoridade.
Agosto de 2025 – A PGR o denuncia por quatro crimes; Moraes solicita prisão e extradição.
Setembro de 2025 – Oposição no Senado pede proteção internacional para Tagliaferro.
Outubro de 2025 – Justiça italiana rejeita o pedido de prisão preventiva e aplica medidas cautelares.
Impactos políticos
O caso não se limita ao campo jurídico: seus efeitos políticos são profundos. De um lado, a direita usa o episódio como exemplo de perseguição judicial, reforçando o discurso de que Bolsonaro, sua família e seus aliados são alvos de um Judiciário parcial.
Do outro, o STF e a PGR sustentam que Tagliaferro cometeu crimes graves e que a divulgação de informações sigilosas compromete a integridade do Estado Democrático de Direito.
Na arena internacional, a decisão da Justiça italiana pode ser interpretada como um sinal de desconfiança em relação às acusações vindas do Brasil, ou apenas como aplicação rigorosa do princípio da proporcionalidade nas medidas cautelares.
O que esperar daqui pra frente
O processo de extradição de Tagliaferro segue em análise e pode levar meses até ser concluído. Caso a Itália recuse entregar o ex-assessor ao Brasil, o caso se tornará ainda mais explosivo politicamente, fortalecendo a narrativa da oposição.
Enquanto isso, Tagliaferro permanece livre, mas monitorado, e promete revelar mais documentos contra Alexandre de Moraes.
Independentemente do desfecho, o caso já entrou para a história como mais um capítulo da tensa relação entre Judiciário e política no Brasil, onde a linha entre combate à desinformação e perseguição política se mostra cada vez mais tênue.