Ideia de “dividendo tarifário” busca apoio popular, mas levanta alertas econômicos e políticos
O ex-presidente americano Donald Trump, que se prepara para disputar novamente a Casa Branca nas eleições de 2025, revelou recentemente um plano que pode mudar a forma como os Estados Unidos lidam com a política comercial. A proposta prevê a distribuição direta de parte da receita gerada pelas tarifas de importação para as famílias de renda média e baixa.
A ideia, apelidada por aliados de “dividendo tarifário”, visa transformar o que antes era apenas arrecadação fiscal em uma forma de benefício direto para a população, em um modelo semelhante aos cheques de estímulo distribuídos durante a pandemia da Covid-19. A proposta é vista como uma jogada estratégica para atrair o eleitorado da classe trabalhadora, grupo-chave para as eleições de 2025.
💡 Como funcionaria o “dividendo tarifário”
Segundo Trump, o governo arrecada bilhões de dólares por ano com tarifas sobre produtos importados. “Esses recursos podem ser revertidos para o povo americano”, afirmou. Em termos práticos, ele sugere que parte dessa receita seja repassada como créditos ou cheques para famílias com renda anual abaixo de determinados limites.
O senador republicano Josh Hawley, do Missouri, já apresentou no Congresso o projeto chamado American Worker Rebate Act, que detalha esse mecanismo. A proposta prevê:
- Um repasse anual de US$ 600 por adulto e US$ 600 por dependente;
- Um teto de US$ 2.400 para famílias de quatro pessoas;
- Redução do benefício para quem ganha acima de US$ 75 mil (indivíduos) ou US$ 150 mil (casais).
O valor seria recalculado anualmente com base nas receitas tarifárias do período anterior.
📊 Impacto esperado: economia e política
De acordo com estimativas do Tesouro americano, as tarifas em vigor já somaram mais de US$ 100 bilhões em arrecadação desde 2018. Se o plano for aprovado e ampliado, poderá injetar até US$ 300 bilhões por ano na economia, conforme apontam analistas da Universidade da Pensilvânia.
Economistas afirmam que o projeto tem potencial de elevar o poder de compra da população de baixa renda, especialmente em estados com maior vulnerabilidade socioeconômica. No entanto, especialistas também alertam para riscos inflacionários e efeitos colaterais no comércio internacional.
⚠️ Críticas e resistência
A proposta enfrenta resistência até mesmo dentro do Partido Republicano. Muitos congressistas argumentam que os valores arrecadados com tarifas deveriam ser usados para reduzir o déficit fiscal dos EUA, que atualmente ultrapassa os US$ 36 trilhões.
Críticos também apontam que tarifas aumentam os preços para todos os consumidores, o que pode anular o efeito positivo dos reembolsos. “Não faz sentido cobrar mais caro dos americanos por produtos e depois tentar compensar com cheques. É ineficiente e populista”, afirmou o senador Brian Schatz, do Havaí.
Além disso, entidades de comércio e indústria alertam que a política pode gerar retaliações internacionais, prejudicar acordos comerciais e tornar os produtos importados muito caros, impactando empresas e consumidores.
🌍 Repercussão internacional e risco de guerra comercial
Desde que Trump anunciou a proposta, a União Europeia e a China sinalizaram preocupação com possíveis aumentos unilaterais de tarifas caso ele retorne à presidência. O modelo de tarifa-reembolso também gera temor entre diplomatas, que enxergam nisso uma ruptura com os princípios da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Especialistas em relações internacionais avaliam que o plano pode ser lido como uma estratégia de “nacionalismo econômico disfarçado de assistência social”, o que aumentaria o isolamento comercial dos EUA em um momento de crescente multipolaridade.
🔍 Comparações com o passado: o que deu certo (e o que não deu)
A proposta remete, em parte, ao modelo adotado no Alasca, onde residentes recebem anualmente um dividendo dos lucros da exploração de petróleo. A diferença é que, no caso americano, o fundo viria de tarifas impostas a países estrangeiros — um mecanismo muito mais volátil e politicamente sensível.
Durante a pandemia, o governo federal dos EUA distribuiu três rodadas de cheques de estímulo, somando bilhões de dólares. Embora o impacto tenha sido positivo em curto prazo, economistas apontaram que parte desses repasses contribuiu para o aumento da inflação entre 2021 e 2022.
🗳️ Eleição 2025: promessa ou populismo?
A proposta tem forte apelo entre os eleitores da classe média, especialmente em estados industriais como Pensilvânia, Michigan e Ohio, onde a base trabalhadora tem enfrentado dificuldades. O “dividendo tarifário” pode se tornar uma bandeira central da campanha de Trump, especialmente se seus adversários não apresentarem alternativas claras de estímulo econômico.
Contudo, para ser implementada, a medida precisaria vencer resistências no Congresso, passar por revisão orçamentária e enfrentar contestação jurídica.
A ideia de redistribuir parte da arrecadação com tarifas para cidadãos de baixa e média renda marca uma mudança significativa na política fiscal americana, aproximando-se de modelos de renda mínima com viés nacionalista. Embora politicamente atraente, a proposta ainda carece de estudos mais profundos sobre viabilidade, sustentabilidade econômica e impactos inflacionários.
Caso avance, poderá redefinir a forma como os Estados Unidos lidam com a arrecadação tributária e sua função social — ou tornar-se apenas mais uma promessa de campanha.