O paracetamol, conhecido popularmente como Tylenol, é um dos medicamentos mais utilizados em todo o mundo para aliviar dores e reduzir febre. Durante décadas, ele foi considerado uma opção relativamente segura para uso na gravidez, especialmente quando comparado a outros analgésicos que apresentam riscos conhecidos. No entanto, pesquisas recentes têm colocado esse medicamento no centro de uma polêmica.
Diversos estudos epidemiológicos analisaram a exposição pré-natal ao paracetamol. Em alguns casos, os resultados sugerem uma associação estatística entre o uso frequente do medicamento durante a gravidez e maior incidência de transtorno do espectro autista (TEA) ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) em crianças.
Um estudo publicado em 2021 no European Journal of Epidemiology, que revisou dados de mais de 70 mil mães e crianças, encontrou um risco levemente maior de TDAH e TEA em crianças cujas mães relataram uso prolongado de paracetamol durante a gestação.
Ainda assim, os próprios autores alertam: associação não significa causalidade. Ou seja, não há comprovação definitiva de que o medicamento seja a causa direta. Fatores genéticos, ambientais e de saúde materna também podem influenciar esses desfechos.
Epidemia de autismo: coincidência ou possível influência
O número de diagnósticos de autismo tem crescido de forma significativa nas últimas décadas, especialmente em países desenvolvidos. Muitos especialistas atribuem esse aumento à maior conscientização, melhoria nos critérios diagnósticos e ampliação do acesso a serviços de saúde mental.
No entanto, alguns pesquisadores levantam a hipótese de que fatores ambientais, incluindo exposição a determinados medicamentos durante a gestação, possam desempenhar um papel adicional nesse fenômeno. O paracetamol, por ser amplamente utilizado, acabou entrando no radar das investigações científicas.
O que dizem os especialistas
As principais organizações de saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG), ainda consideram o paracetamol seguro quando usado de forma pontual durante a gravidez.
O alerta atual é contra o uso frequente e prolongado do medicamento sem orientação médica. Em outras palavras, uma gestante que toma um comprimido ocasionalmente para dor de cabeça provavelmente não enfrenta grandes riscos. O problema surge quando há automedicação diária ou por longos períodos.
Precaução e responsabilidade
Evitar automedicação na gestação.
Utilizar o paracetamol apenas quando necessário e na menor dose eficaz.
Conversar com o obstetra antes de tomar qualquer medicamento.
O debate sobre o uso do Tylenol na gravidez e uma possível ligação com o aumento de diagnósticos de autismo ainda está em aberto. O que se sabe é que a ciência precisa de mais estudos longitudinais e controlados para confirmar ou descartar de forma definitiva essa relação.
Enquanto isso, a recomendação é clara: gestantes devem sempre consultar um médico antes de recorrer a analgésicos e evitar o uso contínuo de qualquer medicamento sem supervisão.