Com mais de 30 anos de existência e presença internacional, o Primeiro Comando da Capital (PCC) estaria tentando se aproximar de autoridades do alto escalão do Judiciário brasileiro. Documentos de uma investigação conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público de São Paulo (MPSP), apontam que um dos integrantes da cúpula da facção tentou, sem sucesso, contato com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes Marques.
Segundo o Procedimento Investigatório Criminal (PIC), que reúne 683 páginas de dados extraídos de celulares apreendidos e interceptações telemáticas, a tentativa de aproximação partiu de Rodrigo Felício, conhecido como “Tiquinho”. Preso na Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau II, no interior de São Paulo, Tiquinho teria usado intermediários para tentar estabelecer um canal de comunicação com o ministro.
Como ocorreu a tentativa de aproximação
Apesar das rígidas medidas de segurança da unidade prisional, Tiquinho conseguiu enviar cartas manuscritas para fora da prisão. Com o auxílio da companheira, que atuava como mensageira durante as visitas, ele orientava a filha sobre como abordar o ministro Kassio Nunes Marques.
Em mensagens de WhatsApp interceptadas, a filha de Tiquinho relata à madrasta ter participado de um jantar em uma embaixada, onde conheceu pessoas que poderiam facilitar o acesso ao ministro. A jovem mencionou que um amigo tentaria marcar uma reunião com o magistrado e prometeu dar uma resposta no dia seguinte.
Confira as mensagens enviadas












Telegramas codificados e orientações
Em outro momento, a filha de Tiquinho explicou que enviaria um telegrama codificado para informar o pai sobre o andamento das negociações. Após uma visita ao presídio, a companheira do preso contou que Tiquinho considerava dispensável a contratação de um advogado caso a reunião fosse concretizada, pois o processo estaria sob responsabilidade do ministro.
Em conversas posteriores, a filha relatou dificuldades em conseguir a reunião e revelou que, embora tenham conseguido contato com alguém que trabalhou diretamente com o ministro, o resultado esperado não foi alcançado. As tentativas de aproximação, no entanto, continuaram.
Posição do ministro Kassio Nunes Marques
O gabinete do ministro, ao ser procurado pela imprensa, esclareceu que Kassio Nunes Marques não conhece os envolvidos e nunca recebeu qualquer representante de Rodrigo Felício. Informou ainda que, das oito ações envolvendo o nome de Tiquinho, seis foram rejeitadas pelo ministro e confirmadas pela Segunda Turma do STF.
O gabinete explicou também que houve uma audiência formal solicitada por um advogado do caso, Aury Lopes Jr., e que ela foi realizada por videoconferência com um juiz instrutor do gabinete — prática comum no tribunal.
A atuação de Tiquinho dentro da prisão
Além da tentativa de aproximação com o STF, as investigações do Gaeco apontam que Tiquinho continua exercendo grande influência fora das grades. As cartas manuscritas enviadas por ele tratam da organização da logística do tráfico internacional de drogas, envolvendo principalmente maconha e cocaína.
A “sintonia restrita” do PCC
Os documentos investigativos detalham a atuação do chamado “setor de inteligência” do PCC, conhecido como sintonia restrita. Esta célula interna é composta por membros de extrema confiança e alto poder de decisão, responsáveis por temas estratégicos da facção. Apesar das barreiras físicas, a comunicação e a movimentação de ordens entre os presos e os integrantes livres continuam ativas.
Próximos desdobramentos
Nos próximos dias, novas reportagens prometem trazer mais detalhes sobre o funcionamento interno dessa célula do PCC, revelando como a facção organiza sua rede de inteligência e movimenta milhões no tráfico de drogas mesmo com seus líderes presos em unidades de segurança máxima.
Fonte: Metrópoles